Campeonato Sul-Americano de Campeões - 1948

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Histórico

Considerada pela Comebol como a primeira competição sul-americana de clubes, o Campeonato Sul-Americano de Campeões disputado entre os dias 11 de fevereiro até 17 de março de 1948, no Chile, reuniu alguns dos principais campeões nacionais da América do Sul e que teve como clube anfitrião o Colo-Colo.

A competição deu origem posteriormente a criação da Champions League, principal torneio de clubes da Europa, já que o jornalista francês Jacques Ferran, do L’Equipe, esteve no Chile cobrindo a competição e voltou à Europa fascinado com a ideia. Num primeiro momento, a UEFA realizou apenas campeonatos continentais entre as seleções europeus, mas em 1955 cedeu a proposta do jornalista e criou finalmente à Liga dos Campeões.

O torneio disputado em Santiago, reuniu o River Plate, campeão argentino, Litoral, campeão de La Paz, Colo-Colo, campeão chileno, Emelec, campeão de Guayaquil, Municipal, vice-campeão peruano, Nacional, campeão uruguaio e o Vasco, campeão carioca.

Com um ataque fantástico, que havia marcado 68 gols e sofrido apenas 21, em todo o campeonato carioca de 1947, o expresso da vitória chegou à Santiago sabendo que seu principal adversário na competição seria a temivel La Máquina, como era conhecido a equipe do River Plate, de um até então jovem Alfredo Stéfano di Stéfano.

A equipe argentina, também estava encantando o seu país, pois havia conseguido conquistar o título nacional obtendo a incrível marca de 90 gols, sendo de 21 deles marcados por Di Stéfano.

A fórmula do torneio, de pontos corridos, obrigava o River a vencer o confronto contra o Vasco, já que a equipe havia perdido para o Nacional, por 3 a 0. Já a equipe vascaína, dependia apenas de um empate para se sagrar campeã, mesmo que seu adversário ainda tivesse um jogo a menos a ser disputado, que seria contra o Colo-Colo.

A equipe vascaína que enfrentaria o River Plate possuía alguns destaques importantes, como Ademir, grande nome do time e artilheiro do Vasco na competição com – gols marcados, que fraturou o pé direito no jogo contra o Nacional, além do zagueiro argentino Rafanelli, barrado pelo técnico Flávio Costa por seu nervosismo de atuar diante do time de seu país.
Com a torcida contra e uma arbitragem tendenciosa para os argentinos, o goleiro Barbosa, que disputada uma grande partida, ainda defendeu um pênalti de Labruna. Barbosa, descreveu o lance dessa maneira:

Barbosa conta o seu milagre:

"Não foi pênalti, não. Mas o que fazer contra aquele juiz? Me conscientizei de que tinha de agarrar. Então fiquei lá debaixo dos paus; o Labruna, estrela do River, na marca de cal. Ele chutou rasteiro, e eu fui lá buscar a menina."

No segundo tempo a partida continuaria com grandes chances para os dois lados. Eis que no minuto 28, após reposição de Barbosa para Friaça, Chico marca para o Vasco, porém os argentinos cercam Valentini que acaba anulando o gol alegando impedimento de Chico. Os vascaínos, indignados, junto com Flávio Costa tentam dialogar com o árbitro do jogo, mas é em vão.

Com os ânimos acirrados, o argentino Rossi faz falta dura em Maneca, porém o juiz não deu nada. Foi então que Chico, em devolução, comete infração em Rossi, mas dessa vez o árbitro do jogo chama atenção do atleta vascaíno. 
Com o 0 a 0 no placar, será necessário à disputa de 5 minutos de prorrogação.

O que o público presente no estádio de Santiago viu nesses 5 minutos foram incríveis defesas dos dois goleiros, tanto Barbosa quanto Grisetti, fruto dos ótimos ataques que ambas as equipes tinham. 

No último lance do jogo, Lelé, que entrou na vaga de Friaça, chuta forte de pé direito para o gol, porém Grisetti defende com a ponta dos dedos... Resultado, finalizada a prorrogação, o Vasco da Gama conquista o primeiro título internacional do futebol brasileiro.

[Mauro Prais] O Campeonato Sul-Americano de Campeões não passou da sua primeira edição. O jornalista Geraldo Romualdo da Silva assim descreveu o que chamou de "a culpa inocente do Vasco": 

A garotada de hoje não imagina o sucesso que o Vasco fez no Chile, em 48. O Campeonato dos Campeões foi uma ideia de sentido tão formidável, bolada em circunstâncias tão vantajosas para os clubes dele participantes e de resultados financeiros imediatos, igualmente tão pródigos para todos, que o normal, e até o óbvio, seria esperar-se do sucesso que produziu uma vida mais longa. Não foi esse o caso. Motivos que transparentemente não se justificam, mas que a razão política explica, determinando o sufocamento do torneio, matando-o no seu nascimento. A manobra foi a seguinte: destroçados na vaidade milenar pela inesperada derrota que o Vasco impôs ao River Plate, em Santiago, os argentinos, que tudo fizeram no começo para estimular a iniciativa chilena, passaram ostensivamente a sabotá-la. "Simplesmente - afirmaram mais tarde os jornais de Buenos Aires - jamais nos meteremos em competições preparadas para determinados tipos de vencedores". 

Isso dito não se meteram mesmo. Resultando daí que, ainda todo-poderosos do futebol sul-americano, terminaram por esvaziar o Campeonato. Sepultando-o, impunemente, após sua primeira e útil experiência. 

No fundo da coisa, o que levou os argentinos a se ressentirem tanto foi a derrota que o time do Vasco impôs ao orgulhoso River, base de sua Seleção Nacional, um conjunto milionário, arrogante, formado por jogadores ténicamente formidáveis, mas incapazes de entender a humildade como base moral de qualquer esporte. Aquele Vasco não podia surpreendê-los assim. Mas surpreendeu. Aquele Vasco não podia vencê-los assim, sem apelar para a violência e sem depender do apoio do juiz. Mas venceu. 

Fichas dos jogos:

VASCO DA GAMA (RJ) 2 x 1 LITORAL (BOL)
Data: 14/02/1948
Local:Estádio Nacional / Santiago, no Chile
Árbitro: Carlos Lesson (CHI)
Gols: Lelé (2); Sandoval
Cartão vermelho: Ismael (V)
VASCO DA GAMA: Barbosa, Augusto (Rafagnelli) e Wilson; Ely, Danilo e Jorge; Friaça, Maneca (Ismael), Dimas (Djalma), Lelé e Chico.
LITORAL: Gafure (Millan), Arraz e Bustamante; Vargas, Valencia e Ibanez; Sandoval, Rodriguez, Caparelli, Gutierrez e Orgaz.

VASCO DA GAMA (RJ)4 x 1 NACIONAL (URU)
Data: 18/02/1948
Local: Estádio Nacional / Santiago, no Chile
Árbitro: Higino Madrid (CHI)
Gols: Ademir, Maneca, Danilo e Friaça; Wálter Gómez
VASCO DA GAMA: Barbosa, Wilson e Rafagnelli; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Friaça, Ademir (Ismael) e Chico.
NACIONAL: Paz, Raul Pini e Tejera; Gambetta (Talba), Rodolfo Pini e Cajiga; Castro, Wálter Gómez, Marin, José Garcia e Orlandi.

VASCO DA GAMA (RJ)4 x 0 MUNICIPAL (PER)
Local: Estádio Nacional / Santiago, no Chile
Data: 25/02/1948
Árbitro: Julio White (CHI)
Gols: Lelé, Friaça (2) e Ismael
VASCO DA GAMA: Barbosa (Barcheta 37'/2ºT), Wilson e Rafagnelli; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca (Dimas 28'/2ºT), Friaça, Lelé (Ismael, intervalo) e Chico.
MUNICIPAL: Suárez, Cavadas e Perales; Colunga, Castillo e Cellis (Ruiz 18'/2ºT); Mola (Navarrete 38'/2ºT), Mosquera (López 14'/2ºT), Drago, Guzman e Torres.

VASCO DA GAMA (RJ) 1 x 0 EMELEC-EQU
Estádio: Nacional, em Santiago, no Chile
Data: 29/02/1948
Árbitro: Higino Madri (CHI)
Gol: Ismael
VASCO DA GAMA: Barbosa, Augusto e Rafagnelli; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca (Dimas), Friaça, Lelé (Ismael) e Chico (Nestor).
EMELEC: Arias, Zurita e Enriquez; Mendonza I, Alvarez e Ortiz (Riveros); Fernandez, Jiménez, Alcibar, Yepes e Mendonza II.

VASCO DA GAMA (RJ) 1 x 1 COLO COLO (CHI)
Data: 07/03/1948
Local: Estádio Nacional / Santiago
Árbitro: Carlos Paredes (BOL)
Gols: Farias; Friaça
VASCO DA GAMA: Barbosa, Augusto e Wilson; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca (Lelé) (Maneca), Friaça, Ismael e Chico (Nestor).
COLO COLO: Fernandes, Fuerzalida (Urroz) e Pino; Machuca, Miranda e Muñoz; Castro (Clavero), Farias, Infante (Lorca), Varela e López.
* Obs.: O regulamento permitia que um jogador substituído voltasse a campo.

VASCO DA GAMA 0 x 0 RIVER PLATE (ARG)
Data: 14/03/1948
Local: Estádio Nacional / Santiago, no Chile
Árbitro: Nobel Valentine (URU)
Cartões vermelhos: Chico (V) e Mendez (RP)
VASCO DA GAMA: Barbosa, Augusto e Wilson (Rafagnelli); Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca (Lelé), Friaça (Dimas), Ismael e Chico
RIVER PLATE: Grizetti, Vaghi e Rodríguez; Yácono (Mendez), Rossi e Ramos (Ferrari); Reyes (Muñoz), Moreno, Di Stéfano, Labruña e Lostau

Fonte: Só Vasco da Gama e Mauro Prais Atualizado em: 25/10/2016 21:10